terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Lisboa – O Poleiro: o melhor bolinho de bacalhau que já comi


A estrela da casa

O Poleiro, na zona de Entrecampos, é um restaurante de referência quando se procura em Lisboa a boa comida tradicional portuguesa. Com quase 30 anos de serviços bem prestados, os irmãos Manuel e Aurélio Martins, o primeiro no comando nas panelas e o segundo no trato com os clientes, defendem o princípio de que só bons ingredientes se faz uma boa comida, respeitando os sabores típicos e com uso generoso do bom azeite da terra e ervas aromáticas.

O nome do restaurante e as gravuras de aves que enfeitam a primeira sala relembram que ali outrora funcionou um poleiro (galinheiro e local de venda de aves). Na década de 1950, o local foi endereço de um mercadinho que vendia frutas, galinhas e perus - a respectiva licença adorna uma das paredes do restaurante.



Localizado em uma rua residencial, a primeira impressão é uma prova de que o lugar mantém o ambiente familiar, como se estivéssemos entrando na casa dos donos: você precisa tocar uma campainha para entrar. Até agora as únicas duas vezes em que precisei tocar a campainha para entrar num restaurantre era porque o salão principal era a própria casa dos(as) donos(as).

Os três salões são pequenos e de decoração simples, rústica e confortável convidam a uma refeição generosa e cheia de sabores. O salão principal busca criar uma atmosfera de taberna, com muita madeira escura e um balcão repleto de grandes vinhos. Luminárias em forma de candelabros antigos de madeira e patas de jamón serrano completam a decoração. Os demais ambientes são mais claros, mas os azulejos típicos na parede não enganam: você está em uma casa portuguesa.


Salão principal


Salão principal

O cardápio faz uma viagem pelos sabores de Portugal, com destaque nas cozinhas alentejana (sul) e minhota (norte), esta última a terra do famoso caldo verde. As delícias gastronômicas que deram fama à casa parecem intermináveis: peixinhos da horta, tibornada de bacalhau, polvo à lagareiro, pataniscas de bacalhau com arroz de feijão, gambas fritas com alho, cabrito no forno à padeiro, chanfana, arroz de pato, feijoada à transmontana e entrecosto com favas e enchidos à pastor deixam espaço a muitas dúvidas na hora de escolher.

Mas nada produz melhor resultado do que os pratos à base de bacalhau. Como toda casa portuguesa, o pescado é tratado com o respeito que merece, mas no Poleiro esse carinho por um dos principais símbolos da gastronomia portuguesa alcança níveis de perfeição. Sim, perfeição.


Gambas fritas com alho

O Poleiro faz o melhor bolinho de bacalhau (€3,60, 4 unidades) que eu já comi na vida. Sim, eu disse NA VIDA. Leve e sequinho, com casquinha fininha e crocante, recheio macio e praticamente só de bacalhau super desfiado e zero espinhas, pouquíssima batata, uma pitada de sal e salsinha, apenas realçar os sabores do pescado, e muuuito azeite para deixar o recheio molhadinho. Leve e saboroso, com gosto de bacalhau e não de batata, como deve ser. Inesquecível.

Conhecemos o restaurante em 2011, e desde então já foram três visitas à Lisboa, em todas o Poleiro sempre esteve na lista (em uma delas, saímos da Itália e fomos à capital portuguesa só para comer o bolinho de bacalhau deles). Até agora foram 4 refeições por lá, sempre acompanhadas pelo bolinho de bacalhau, e tenho a impressão de que, a cada visita, estão cada vez melhores.


Bolinhas de Vitela

Mas o bolinho de bacalhau não é a única estrela do cardápio. Se você gosta de camarões, não deixe de provar as "Gambas fritas com alho" (€11,80), uma porção bem servida de camarões salteados no azeite e alho, simples assim. Incrivelmente deliciosos, os camarões chegam no ponto correto de cozimento e com textura impressionante, o alho tem sabor intenso mas sem alterar o sabor do crustáceo. E o azeite português dá show, como sempre. Viciante.

Outras opções interessantes para abrir a refeição (ou fazer aquele menu degustação a la portuguesa, ora pois!) são as "Bolinhas de Vitela" (€4,95) e a "Alheira" (€10,90). A primeira são croquetes de massa leve e sequinha, generosamente recheados com carne de vitela bem temperada; já o segundo dispensa apresentações - gente, é alheira! É muito amor em um único prato! :) :) :)


Alheira

Esqueça qualquer coisa chamada "alheira" que você comeu em solo brasileiro. Seus sabores são marcantes, você perde qualquer referência para comparar (e, assumindo que estamos em Portugal, tendo a dizer que o sabor deles deve ser o original), mas aos poucos a boca vai se acostumando com os sabores defumados, as notas picantes. A carne é de ótima qualidade, leva pouco pão, apenas o suficiente para dar consistência. O alho é intenso, assim como a páprica. Na boca, é uma explosão de sabores. Aprovadíssima!

Os pratos principais do cardápio também alcançam níveis próximos à perfeição, como o Arroz de Bacalhau (€15,60), bem servido, úmido e com generosas lascas de pescado. Servido em uma charmosa panelinha, chega fumegante à mesa. Este prato diferencia-se pela maciez do pescado e ausência de molho de tomates (usado na maioria dos restaurantes portugueses), o que na minha opinião é um acerto certeiro, pois valoriza o sabor do peixe, preparado com bastante azeite e algumas ervas.


Arroz de Bacalhau

Minha escolha foi o o excepcional “Gambas Fritas com Arroz de Alho e Coentros” (€16,90), preparado com camarões grandes e um molho à base de azeite, manteiga, alho, limão e coentro. Os camarões tenros e salteados são colocados sobre uma manta de arroz soltinho. A presença do coentro e limão são característicos no prato, mas sem interferir no sabor dos camarões com azeite e alho, que predomina na boca. O molhinho escorre e mistura-se ao arroz. Mais uma vez a qualidade dos ingredientes é a chave para transformar este prato simples em algo incrivelmente delicioso, suberbo, superlativo.


Gambas Fritas com Arroz de Alho e Coentros

Outra recomendação é o "Arroz de Vieiras" (€19,60), que leva arroz, muuuuuuitas vieiras - (desculpem, mas vieira é muito amor!), mexilhões e uma boa porção de coentro, generosamente finalizado com azeite. Um senhor prato! A porção é generosa, o arroz é úmido e a quantidade (e qualidade, lógico) dos crustáceos vale muito a pena. Outro prato que chega à mesa em uma charmosa panelinha, fumegante. O conjunto tem excelente harmonização, cada ingrediente tem dua importância, seu valor.


Arroz de Vieiras

A carta de vinhos é um deleite para os amantes dos melhores néctares portugueses, com grande variedade de rótulos tintos e brancos com preços acessíveis. Após uma longa análise, coube ao Aurélio me ajudar a escolher o ótimo Duas Quintas 2011 (€13,70, 375ml), um exemplar do Douro produzido com as uvas Tinta Roriz, Touriga Nacional e Touriga Franca. Aromático no nariz e equilibrado na boca, é um vinho fresco, frutado, com taninos médios. Recomendado para acompanhar carnes vermelhas e queijos, mas que ficou ótimo na harmonização com os pratos de bacalhau e camarão! Gostei tanto que comprei duas garrafas no free-shop de Lisboa.



Também provamos o José de Sousa 2011 (€11,30, 375ml), um alentejano que leva Grand Noir (45%), Trincadeira (35%), e Aragonez (20%). Um vinho com personalidade, aromático no nariz e com taninos suaves na boca, tem notas frutadas, cor rubi intensa. Combinou perfeitamente com a seleção de entradas que pedimos.

Já o Domingos Soares Franco 2010 (€24,70, 750ml) é um dos vinhos top da vinícola José Maria da Fonseca (a mesma do Periquita), um rosé produzido com a uva Moscatel Roxo (também chamada "Moscatel de Setúbal"), famosa por seus vinhos licorosos. Super leve e frutado, é um vinho de aperitivo, no nariz e boca reúne notas de flor de laranjeira, mel, pêra e geléia de frutas. Fez boa companhia para o arroz de vieiras e harmonizou redondo com o arroz de camarões.



As sobremesas são boas, mas não atingiram o mesmo nível de êxtase das entradas e pratos principais. Criada por freiras dos conventos portugueses do século XVII, a “Barriga de Freira” (€4,90) é um dos doces mais tradicionais de Portugal. Originária do Minho, é um creme feito com creme à base de gemas de ovos, açúcar, manteiga, pão ralado, amêndoas e canela. É um doce com sabores fortes e presença marcante de canela.


Barriga de Freira

O “Pão Rala” (€4,90) é típico de Évora, no Alentejo, um doce em formato de pão feito com gemas de ovos, açúcar, farinha, raspas de limão e amêndoas raladas. O interior é macio e molhadinho, tem textura de queijadinha.


Pão de Rala

Fechamos com o "Leite Creme" (€4,40), a versão portuguesa do "crème brûlée" francês e da "crema catalana" espanhola. Simples, suave e mega saboroso - e com a irresistível casquinha torrada no maçarico por cima.


Leite Creme

O lugar mantém praticamente o mesmo tamanho e número de mesas desde a inauguração, mas em trinta anos tornou-se uma das mesas mais disputadas da cidade, frequentada por lisboetas anônimos e toda a classe politica nacional, presidentes e embaixadores de outros países e gente do mundo artístico e do futebol. Se estiver pensando em jantar n’O Poleiro, faça reserva com antecedência (sempre por telefone, eles não retornam o e-mail).

Endereço: Rua de Entrecampos 30-A
Telefone: +351 (21) 797 6265
Horário de funcionamento: Segunda a sábado das 12h15 às 15hs e das 19h15 às 23hs, fecha domingo.
Internet: www.opoleiro.com

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