quinta-feira, 6 de novembro de 2014

30 dias na Itália: Ragusa, Sicília


Ragusa Ibla

Localizada na região sul da Sicília, Ragusa foi fundada por sicilianos indígenas no século 18 aC, no auge da Idade do Bronze. Os gregos de Siracusa chegaram à região no século 8 aC, os romanos a conquistaram em 258 aC e por lá ficaram até a queda do império. Também passaram por lá bizantinos (séculos 4-8 dC), árabes (séculos 8-10 dC), normandos (séculos 11-13 dC), franceses e espanhóis. Em 1693 a cidade foi arrasada por um terremoto que atingiu a maior parte do lado oriental da Sicília e matou mais de 60 mil pessoas (10 mil só em Ragusa).

A opinião pública de onde a reconstruir a cidade foi dividida, e por isso um acordo foi feito. Os cidadãos mais ricos optaram por um local diferente, que recebeu o nome de Ragusa "Superiore", enquanto a outra metade da população decidiu pela reconstrução no local original, mantendo o nome Ragusa Ibla. Reconstruída em estilo barroco, o layout medieval de Ibla mistura ruas sinuosas, escadarias íngremes e igrejas antigas. Já Ragusa Superiore mescla edifícios em estilos barroco e neo-clássico, ruas largas e planas.


Via Capitano Bocchieri com o Duomo ao fundo

As duas cidades permaneceram politicamente separadas até 1926, embora conectadas pela Ponte Vecchio (1843), quando foram unificadas para se tornar a capital da província, tomando o lugar de Modica, cidade mais importante na região desde 1296. Desde então outras duas pontes foram construídas, a Ponte Nuovo (1937) e Ponte Giovanni XXIII (1964).

Ragusa tem no total 18 monumentos declarados Patrimônio Mundial da UNESCO em 2002, 5 dos quais em Ragusa Superiore e os demais em Ibla. A lista completa pode ser consultada aqui.


Ponte Vecchio (frente) e Ponte Nuovo (fundo) (Crédito: Wikipedia)

Como chegar: O aeroporto de Comiso (17km de Ragusa) recebe voos “low-cost” da Alitalia e Ryanair vindos de Roma (Fiumicino e Campino) , Milão(Linate), Londres (Stansted), Paris (Orly) e Dublin.

Partindo de Catania (97km), cidade com o principal aeroporto da região para voos internacionais, é possível chegar em Ragusa de ônibus (ETNA Trasporti, 11 saídas diárias, 1h45 de viagem, com saídas do aeroporto a cada 30 minutos) e trem (Trenitalia e Blablacar, 1h30 de viagem, com saídas diárias de Catania Centrale), ambos com chegadas em Ragusa Superiore, de onde partem ônibus da AST para Ragusa Ibla. De Siracusa também partem trens (Trenitalia, 2 horas) e ônibus (AST, 2h30) regulares até Ragusa.



Quanto tempo ficar: Dois dias, suficiente para conhecer as principais atrações de Ragusa ibla e Superiore. Clique aqui para ver o mapa de Ragusa.

Comece o tour por Ragusa Ibla, na inclinada Piazza del Duomo, repleta de bares e restaurantes. Localizada no topo da praça, a Cattedrale di San Giorgio (século 18) levou quase 40 anos para ser finalizada e é considerada símbolo do renascimento da cidade pós-terremoto e principal edificação de Ragusa. Catedral de Ragusa Ibla, substituiu a antiga Chiesa di San Giorgio Vecchio construída em estilo gótico-catalão na segunda metade do século 14 e destruída pelo terremoto de 1693 (a maioria de suas pedras foram utilizadas para construir o novo Duomo), exceto por seu portal quase intacto que pode ser visto perto do Giardino Ibleo.


Cattedrale di San Giorgio

Uma grande escadaria cercada por uma grade de ferro ornamentada por estátuas de santos revela uma fachada dividida em três partes por colunas e outros elementos decorativos. A cúpula em estilo neoclássico é de 1820, tem 40 metros de altura e é suportada por 16 colunas duplas. O interior tem uma planta em cruz latina com uma nave central e duas naves laterais com pilares de pedra e absides semi-circulares. Treze grandes vitrais nas laterais representam a vida e o martírio de São Jorge, o interior é decorado com pinturas dos séculos 18-19, e no final do corredor principal há uma enorme tapeçaria que lembra a Crucificação.


Piazza Duomo com a catedral ao fundo

Na Via Capitano Bocchieri, pertinho do Duomo, está o Palazzo La Rocca (século 18), famoso pelas oito varandas com mísulas ornamentadas por máscaras típicas da arte barroca, com figuras mitológicas, anjos e desenhos com representações de pessoas de todos os níveis da sociedade. Na mesma rua está o Duomo, um dos três restaurantes da cidade donos de estrelas no Guia Michelin (os outros são La Fenice e Locanda Don Serafino).


Uma das sacadas do Palazzo La Rocca

Descendo a praça à esquerda está o Circolo di Conversazione (século 19), um clube fechado dos nobres de Ragusa para conversar e passar o tempo. A fachada tem três portas emolduradas por seis pilastras, acima das portas laterais há um baixo-relevo com duas esfinges, e na central são duas mulheres aladas segurando uma lâmpada. No topo, o brasão de armas da cidade ladeado por dois leões. O salão central em estilo neoclássico parece um palácio, com molduras douradas nas portas e espelhos e um afresco que ocupa todo o teto. Os outros seis quartos são reservados para jogar e ler. Para relaxar, há um jardim interno com palmeiras e flores.


Circolo di Conversazione

Continuando a descida encontramos a Piazza Pola à direita, com sua Delegazione Municipale (Câmara Municipal)  e a Chiesa di San Giuseppe (1590). Sua fachada convexa é dividida em três níveis, com quatro colunas coríntias e duas meias-colunas, um portal com arco semicircular e estátuas de Santa Gertrudes, Santo Agostinho, São Gregório, Santa Escolástica San Mauro e São Bento. Na torre estão três sinos do século 19.


Delegazione Municipale (esq)  e a Chiesa di San Giuseppe (dir)

O interior abobadado-oval é dividido em três naves, tem cinco altares feitos de pedra e decorados com vitrais, belas galerias, um pavimento de asfalto preto intercalado com azulejos de majólica e uma cúpula decorada com um afresco da Gloria di San Benedetto (1793). No altar central está uma imagem da Sagrada Família (1775). Abriga estuques preciosos, pinturas e várias peças barrocas.


La Fontana di Piazza Duomo, em frente a Piazza Pola

Seguindo pela Corso XXV Aprile, chegamos ao Giardino Ibleo (ou Villa Comunale), mais antigo dos quatro jardins públicos da cidade foi construído em 1858, mescla estilos inglês e italiano, oferece uma grande variedade de plantas e flores, além de uma bela vista do vale dell’Irminio. A entrada é uma bela alameda cercada por palmeiras, no interior estão a Chiesa di San Vincenzo Ferreri, ou Chiesa di San Domenico (século 16), Chiesa di San Giacomo (século 14) e Chiesa del Cappuccini (século 17), todas erguidas em estilo medieval. No centro do parque, um monumento homenageia os mortos das duas Guerras Mundiais.


Entrada do Giardino Ibleo




Monumento em homenagem aos mortos das duas Guerras Mundiais


Chiesa di San Domenico (esq) e Chiesa di San Giacomo (dir)

À direita da entrada do jardim, está o Portale di San Giorgio, ruína da antiga Chiesa di San Giorgio Vecchio. Era uma igreja impressionante, com três naves, catorze pilares e doze altares. Construído com blocos de calcário maciço, o portal é um dos símbolos mais importantes da cidade. A moldura acima da entrada tem São Jorge matando o dragão e libertando a Rainha de Beirute. O arco está contido entre duas pilastras caneladas e espaço superior é decorado com dois grandes diamantes, que abriga a águia Ragusa.


Portale di San Giorgio

Saia do parque pela direita e faça o retorno pelo vale, pegando a Via Chiaramonte e a Via del Mercato, passe pelo prédio do antigo Mercato Pubblico, atualmente fechado. No final da via está a Piazza della Repubblica, núcleo histórico da antiga Ibla. Localizada no topo de uma escadaria, a Chiesa delle Anime del Purgatorio (1658) foi uma das poucas a não sucumbir ao terremoto de 1693, graças a um aqueduto que resistiu e a manteve escorada. Sua fachada tem quatro colunas com capitéis coríntios, ao redor da entrada principal estão esculturas de pessoas no purgatório. Como curioridade, a torre sineira (século 18) fica separada da igreja


Chiesa delle Anime del Purgatorio

O interior em estilo barroco tardio tem duas fileiras de seis colunas de pedra com capitéis coríntios, cinco altares e três capelas. O altar-mor de mármore policromado e cercado por quatro colunas coríntias data do final do século 18. Contém pinturas e esculturas dos séculos 17-19, como a imagem “Santos e Almas do Purgatório” (século 18). As cornijas dos corredores têm esculturas de crânios com a insígnia de reis, papas, cardeais e bispos, simbolizando a transitoriedade da riqueza e poderes humanos.

Do outro lado da praça está Via Scale, a famosa escadaria com 242 degraus que conecta Ragusa Ibla e Ragusa Superiore. Além das casas centenárias distribuídas nos dois lados da escadaria, também encontramos belos palácios e igrejas, como a Chiesa di Santa Maria dell'Itria (século 14), construída no antigo bairro judeu e reconhecida pela torre sineira octogonal com guirlandas esculpidas e pelo campanário com azulejos azuis.


Via Scale


Cúpula da Chiesa di Santa Maria dell'Itria

Ampliada na primeira metade do século 18, o interior em estilo rococó tem uma nave central e duas laterais, divididas por dez colunas de pedra branca com capitéis coríntios. Contém cinco altares decorados com pinturas e esculturas, e uma capela elegante à direita. O altar-mor tem um dossel de madeira entalhada suportado por quatro colunas caneladas, dois de cada lado. Acima da entrada principal está o órgão de madeira (acessado por uma escada que leva também à torre do sino), e no chão há três lápides de pedra do século 17.

A subida é dura, mas vale a pena. Aproveite para recuperar o fôlego em frente ao Palazzo Nicastro (1760), antigo presídio da cidade e famoso pela escadaria que passa por baixo do prédio. Superada a escadaria, encontramos o Palazzo Cosentini (século 18), com uma série de varandas esculpidas com máscaras e figuras caricaturais e uma bela estátua de San Francesco di Paola na esquina do prédio.


Palazzo Nicastro (também conhecido como "Palazzo della Cancelleria")

Nossa próxima parada é a Chiesa di Santa Maria delle Scale (século 11), igreja mais antiga da cidade, erguida sobre as ruínas da Abbazia de Santa Maria di Roccadia. Reconstruída nos séculos 13-14 e após o terremoto de 1693, mescla estilos barroco e gótico (incluindo três portais em estilo catalão no corredor à direita). Já a restauração realizada no século 18 incluiu alguns componentes em estilo renascentista e e girou o interior da igreja em 90°.


Chiesa di Santa Maria delle Scale

O interior tem três capelas em estilo gótico tardio adornadas por telas de alguns pintores sicilianos do século 18. A partir da nave principal é possível ver quatro portais que dão acesso à antiga nave da igreja original, com colunas esculpidas e arcos ogivais em estilo gótico. No altar principal é possível avistar uma bela obra de terracota entitulada "Transito della Vergine" (1538).

Agora que você já viu a igreja, olhe para o outro lado e aprecie um dos melhores mirantes da Sicília, uma visão privilegiada da cidade antiga, suas ruas estreitas, a Chiesa di Santa Maria dell'Itria em primeiro plano, a Chiesa delle Anime del Purgatorio atrás, o Palazzo Sortino Trono (em amarelo, do lado esquerdo da igreja), a cúpula da Cattedrale di San Giorgio no fundo à esquerda. No ponto mais alto da cidade está o Distretto Militare, que já foi usado como presídio e que atualmente é usado pela Università Iblea (Universidade de Ragusa).


Uma das belas sacadas do Palazzo Cosentini

Saia da igreja em direção a Corso Italia, onde começamos nosso tour em Ragusa Superiore. Nossa primeira parada é no Palazzo Bertini, erguido no final do século 18 e famoso por suas mísulas ornamentadas nas varandas, sendo a mais famosa delas conhecida como “tre mascheroni”, as três cabeças retratando figuras típicas da época barroca (pobre, nobre e comerciante).

Seguimos pela Corso Italia em direção à Piazza San Giovanni, onde estão o Palazzo Zacco (século 18), outro exemplo de palácio com varandas de arte barroca, e a antiga catedral de Ragusa Superiore, a Cattedrale di San Giovanni Battista (século 18). A fachada tem três portais e esculturas que representam a Madonna, São João Batista e São João Evangelista. A ordem superior de colunas tem dois relógios solares do século 18 que mostram o tempo no modo “italiano” (de sol a sol) e “francês” (de meia-noite à meia-noite). A alta torre sineira, no lado esquerdo, também é em estilo barroco.


Cattedrale di San Giovanni Battista (Crédito: blog "Catedrales Católicas del Mundo")

O interior tem uma planta em cruz latina com três naves separadas por três colunas adornadas com ouro. Sobre cada coluna estão painéis mostrando versículos bíblicos referentes a São João Batista. A cúpula foi construída em 1783 e coberta com folhas de cobre no século 20. O magnífico órgão de tubos Serassi foi instalado em 1858. As capelas laterais, caracterizadas por altares decorados com mármore, são do século 19.

Fechamos nosso tour no Museo Archeologico Ibleo, localizado entre as vias Roma e Natalelli. Dividido em seis seções, de acordo com os períodos dos achados (pré-histórico, grego, Siculis, helenística, romana e “coleção”), no seu acervo estão coleções de vasos, fragmentos de pisos de mosaico e painéis de parede, estatuetas de terracota de antigas divindades gregas e romanas e túmulos reconstruídos do início do século 6 aC. Abre todos os dias das 9hs às 13h30 e das 14hs às 17h30, a entrada custa €4 para adultos e €2 para menores.

Onde comer:

Para uma cidade com três restaurantes estrelados no Guia Michelin (Duomo, La Fenice e Locanda Don Serafino), tivemos alguma dificuldade para fugir das armadilhas “pega-turista” e buscar refeições com boa relação custo/benefício.

Trattoria Ai Lumi: Instalado em um casarão centenário na Corso XXV Aprile, nos revelou um problema dos restaurantes instalados na Piazza Duomo: do lado de dentro é um forno, e do lado de fora há a questão dos fumantes. Ou seja, quem não fuma, sofre. Comemos dois spaghettis, um com camarões (€10) e outro com tomatinhos e alho (€9), ambos suficientes para matar a fome, mas longe de arrancar suspiros.





Maredentro: Outro restaurante na Corso XXV Aprile, salão interno com tijolos à mostra mantém o ar medievaql de Ragusa Ibla. Boa execução nos pratos à base de frutos do mar - a salada de frutos do mar (€9) reúne polvo, lula, camarões e mexilhões, o resultado agradou bastante; já o misto de frutos do mar (€15) tem camarão e lula bem preparados, mas o filé de peixe-serra (peixe servido em abundância nas mesas sicilianas) sem graça.





Gelati DiVini: Sorveteria instalada na Piazza Duomo, provavelmente uma das melhores da cidade, mas bem abaixo de outros gelati italianos que provamos no continente – aliás, os gelati sicilianos revelaram-se, em linhas gerais, decepcionantes. Oferece cerca de 20 sabores, preços entre €2 (pequeno) e €3 (grande) por um copinho ou casquinha com 2 sabores. Chocolate com sabor intenso, limão e maracujá com gostos bem artificiais.



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